terça-feira, 27 de março de 2012

Adeus CLP!






No Domingo passado despedimo-nos das paredes do Clube Literário do Porto agora despidas dos quadros do José Rodrigues que nos acompanharam durante estes três anos de Café Filosófico todos os últimos domingos de cada mês. 
Despedi-mo-nos com uma conversa em torno das virtudes moderada pelo Nuno Paulos Tavares do projecto Enteléquia. 
Falámos de Honestidade, de Autenticidade, de Lealdade, de Alegria e de Verdade. Também falámos de Mentira e ainda bem que o fizemos. Pensar a Mentira como uma virtude parece, no mínimo, um pouco estranho. Mas um Café Filosófico é um evento, no mínimo, um pouco estranho. Pensar um conceito fora do seu trilho habitual era uma atitude de higiene mental recomendada por Nietzsche e é algo que valorizamos muito nestes nossos encontros. Aqui nenhuma ideia é demasiado estranha para ser analisada por todos da forma mais rigorosa que formos capazes.  
Apesar de o momento ser de despedida e, por isso, propício a um tom mais triste não foi o que aconteceu no domingo à tarde. Como estas paredes presenciaram noutras ocasiões sentia-se na sala a Alegria de quem participa de algo raro e de inestimável valor: a discussão educada de ideias.


Deixo uma palavra de agradecimento a todos os colaboradores do Clube Literário do Porto mas em especial à Dra. Eunice Brito a cara e a alma do Clube Literário do Porto, em tudo menos no fecho.
A ela um grande beijinho.  


Deixo-vos com o texto que a Chantal Guilhonato escreveu sobre esta nossa despedida do CLP e com a fotografia do José Rui M. Correia tirada nos últimos momentos do Café Filosófico.
Adeus CLP!

116º Café Filosófico


Despedi-me do CLP assim que entrei. Não tive alternativa. Ele
recebeu-me de caixas abertas e paredes cicatrizadas pelo abandono.
Molduras desenhadas pelo tempo que ficaram agora a descoberto.
Olhei-as e senti-lhes a vergonha. Fiquei quieta.
Em busca de reconforto, subi ao primeiro andar. Encontrei marcas ainda
mais profundas. Fiquei quieta.
Começa o Café Filosófico com uma questão que me interpela: qual a
virtude mais importante?
(Nota: adoptou-se como definição operativa de virtude: «uma qualidade
moral particular»).
Honestidade, Lealdade, Sinceridade, Alegria, Mentira, Lucidez,
Autenticidade, Verdade...
Escolhemos, para primeira reflexão, «Alegria» (proposta pelo Tomás
enquanto participante dado que a sessão foi moderada pelo Nuno
Tavares), definida como «uma atitude positiva acerca do mundo».
Olho as paredes e peço-lhes para ouvir.
Segue-se à Alegria, a Mentira, definida pelo Jorge como sendo «o que
permite ao Homem preservar o seu livre arbítrio».
Olho as paredes e peço-lhes para entender.
Fala-se em virtudes cardeais (Sabedoria/Prudência; Fortaleza;
Moderação e Justiça) e sinto que o Norte se perdeu nalgum dos
embrulhos à porta.
De braço no ar, elege-se a Honestidade como sendo a virtude mais
importante, a que serve de condição para todas as outras.
Olho as paredes e não lhes peço nada. Não tenho coragem.
O António, sentado ao meu lado, recorda então Pessoa «Porra sou lúcido».
As paredes fitam-me e eu fico quieta.
Fecham-se, cedo, as portadas. Antes de sair, parece-me escutar «Qual a
maior virtude? Não deixar paredes morrer»...



Chantal

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